Até sábado
Calabar recebe evento que celebra a cultura ballroom e periférica
Evento celebra corpos trans e beleza da periferia, com oficinas, cursos e concurso
A cultura ballroom, reverenciada pela cantora Madonna no show da sua última turnê, estará em evidência no 1º Calaball de quebrada, que começa nesta quinta-feira, 18, e segue até sábado, 20, na biblioteca comunitária e na quadra esportiva do bairro do Calabar. Realizado pelo Coletivo Transicione, Unzo Kessimbi Amazi e Mojubá Produções, com apoio da União Geral dos Trabalhadores (UGT-BA), o evento será uma celebração aos corpos trans e à beleza da periferia, com oficinas, cursos e um concurso que irá distribuir R$ 1.250 em prêmios (R$ 250 em cada categoria)
O evento é aberto a todos os interessados. Para os meninos e meninas que pensam em estrear na passarela e disputar os prêmios, vale seguir as redes sociais onde estão disponíveis a programação e os treinos de cada categoria: Face, Runway, Realness, Pagodão e Babyvogue. Nomes da cena local e nacional como DJ Lunna Montty vão fazer parte do corpo de jurados. O último dia contará com um pocket show de Yara Amara.
"Vamos trazer a comunidade ballroom pra dentro do Calabar pela primeira vez. A comunidade ballroom é feita por pessoas trans, pretas, afro-latinas e, nos Estados Unidos, surge nos anos 60 e 70 como um aquilombamento desses corpos que não tinham espaço nos bailes, desfiles, competições de beleza e artes em geral, através de Crystal Labeija, mulher trans e negra, fundadora desse movimento", explica Luna Ventura, do Coletivo Transicione.
Para além da parte lúdica e festiva, o 1º Calaball também será lugar de formação e informação: estão previstos cursos e oficinas sobre temas como saúde, vulnerabilidade e trabalho.
Axé e Ballroom - O 1º Calaball de quebrada está diretamente ligado ao ativismo e simbolismo da mãe de santo Alana de Carvalho. Travesti, preta, zeladora do terreiro de angola Unzo Kessimbi Amazi, ela criou há 16 anos a Caminhada LGBTQIA+ do Calabar, preocupada com temas que vão além da diversidade e gênero, a exemplo de moradia, segurança, renda, cidadania e garantia de políticas públicas para essa população. Este ano, diz que o foco é falar das mulheres travestis e dos homens trans na terceira idade que estão sendo esquecidos.
"Nasci e cresci no Calabar. Sou moradora do bairro há mais de 43 anos. Ali é meu espaço de segurança e tenho medo de me mudar pra outro lugar. Transito numa comunidade que tem uma história dentro do maior centro de Salvador. Um quilombo urbano. A parada gay acontece em agosto há quatro anos, mês em que perdi minha mãe. Ela sempre esteve comigo, mesmo sem entender, construindo esse evento", lembra.
O Brasil registrou 145 assassinatos de pessoas trans em 2023, sendo que a maioria das vítimas era jovem, negra e pobre, de acordo com relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra). O documento mostrou mais uma vez que o Brasil é o pais que mais mata pessoas trans no mundo, pelo 15º ano consecutivo.